Sites Grátis no Comunidades.net Criar um Site Grátis Fantástico

MEMORIAL SERRA DA MESA





ONLINE
1






Total de visitas: 30568
I SEMANA DO FOLCLORE

A comemoração da Semana do Folclore no Memorial Serra da Mesa é algo que não pode ser descrito, só quem apreciou de perto pode dizer das emoções que reinaram no ambiente por três dias mágicos.

 

O primeiro dia foi repleto de apresentações das escolas municipais e estaduais, no espaço de vinte mil metros quadrados de construção as crianças e o grande público pareciam formiguinhas desfilando nas montanhas.

 

Cada escola trouxe uma história, uma música, uma dramatização ou simplesmente a exposição de seus trabalhos falando do folclore da região.

 

As oficinas embelezaram o espaço com a maravilha do artesanato, da construção sustentável, dos arreios e chicotes de couro, dos brinquedos antigos, era como se voltássemos no tempo...

 

No final da tarde começaram a chegar os índios, os foliões, os catireiros e os músicos.

 

A noite os indígenas kariri-xocó fizeram seus cantos  a luz da fogueira e assaram o peixe na vara, todo participaram e comeram peixe assado sem sal.

 

No segundo dia a festa começa bem cedo com o som dos assobios e músicas indígenas já no café da manhã. Logo chegam os ava-canoeiros já bem mais alegres e não tão arredios como antes.

 

O Memorial vai enchendo de foliões de várias cidades como Alto Horizonte, Crixás, Campinorte, Uruaçu e ainda com a beleza das fiandeiras fiando na roda e no fuso desafiando versos cantados e todos se misturaram numa grande festa.

 

O palco improvisado na Fazenda Tradicional ficou lotado, foi construído bem de frente ao engenho onde uma junta de bois moia a cana e o público bebia a garapa. O tacho de cobre fervilhava com o melado dourado e bem ao lado o berranteiro soltava um som distante buscando a realidade passada.

 

Na casa da fazenda, Rosange vestida de senhora dos anos 50  pano amarrado na cabeça fazia o café torrado e moído na hora lavando as xícaras esmaltadas na bica dágua que fazia socar o milho no monjolo.

 

O sanfoneiro toca  forró no bordel e as moças  dançam com os catireiros.

 

Momento solene quando as folias sobem ao palco e homenageiam seus foliões que partiram: Seu Adolfo de Alto Horizonte, Seu Quim de Crixás, Seu Dorvalino , seu Caxa e Seu Zé Gomes de Uruaçu. Enquanto eles improvisavam versos tristes, a imagem dos saudosos amigos eram bem vivas  no telão.

 

Seu Café cantou chorando a saudade do amigo Adolfo enquanto o neto segura muito compenetrado a bandeira do Divino.

Nel vestiu a camisa e o chapéu do pai,   e reverenciou ao Divino em homenagem a seus pais  Quim e Ana Maciel.

 

Foi um momento único:

 

Apesar do sol e de muito calor enquanto todos cantavam um vento veio derrepente serenizando o ambiente e com um sopro de paz enxugou as lágrimas da Aninha,  Nel, Jean, do Pedro e as de muitos ali deixando a certeza de que a vida é eterna e que os sonhos não morrem...

 

Logo depois a folia de Crixás apresentou a dança do Engenho novo, uma dança inédita onde eles imitam o trabalho dos dentes do engenho e vão se entrelaçando enquanto o músico acelera o ritmo até que eles se embaraçam.

 

- Meu engenho novo que mandei fazer, meu engenho novo de buriti, bota a cana e deixa rustir

Meu engenho novo de jacarandá

Meu engenho novo...

 

Vivi continua o clima contagiando com o som da sanfona pé de bode e todos querem aprender o chimite...

Inspirado pelo momento o indigena Wirary Tanoné toca violão e canta uma música que fala da natureza e o homem.

 

Iwai avá canoeiro pela primeira desde que foi resgatado das matas sobe ao palco e toca seu instrumento de uma corda só. Niwathima se alegra e puxa o irmão Trumack e o marido Tapirapé para o palco. O Tapirapé de cabeça baixa canta uma música de suas terras distantes e emociona a todos.

 

Trumack no violão  toca Menino da Porteira , os foliões pegam suas violas e o ajudam e daí a pouco todo  o público canta a música num grande coro.

 

Nesse momento vai chegando a turma da comunidade Pombal de Santa Rita do Novo Destino. Anaildes e seu grupo entram com os tambores de mais de 100 anos de existência e mostram a famosa dança do tambor voando as saias rodadas e os chapéus. Uma senhora exuberante no centro do grupo levanta poeira no giro equilibrando  uma garrafa de pinga na cabeça...

 

A tarde ameniza o calor e todos assistem o filme da Mara Moreira “A teia do povo invisível”,  os ava-canoeiros compenetrados pediram para repetir, talvez ali pela primeira vez eles se conheceram mais.

 

A noite na cidade cenográfica ao som  de música popular brasileira descansamos enquanto os indígenas incansáveis cantam  e assam peixe na fogueira.

A lua prestigia o momento...

 

No terceiro dia o grupo de Congada de Niquelândia chega cedo com suas roupas brancas e os aparatos na cabeça lembrando os grandes guerreiros do passado. A congada desfila na fazenda, canta e encanta o público.

 

Para a despedida todos se juntam: foliões, fiandeiras, indígenas, público, funcionários do Memorial e iniciam uma grande procissão atrás dos indígenas cariri xocos que fazem o canto pedindo chuva.

 

No centro da aldeia indigena do Memorial, mesmo com o sol arregalado, suor escorrendo todos dançam em círculos atrás dos cariri xocos pedindo chuva...

A festa pende para o final, despedidas de grupos, abraços, lágrimas e o que é melhor : a grande interação se fez entre todos.

Despede aqui, corre ali e cada um quer deixar sua palavra de amor de vontade de retornar...

 

Abraço Iwai e brinco:

 

- Me dá seu instrumento!

 

Ele sorri olha para os filhos e para surpresa de todos me entrega o  uma relíquia que agora é parte do museu histórico do Memorial Serra da Mesa.

 

Na kombi cheia de indígenas cariri xocos, olho para a guerreira Tanoné e digo:

 

- A chuva não veio!

 

Ela sorri e diz:

 

- Espera  um pouco, assim que nois tiver saindo da cidade, chuva chega!

 

E eles acenando se vão.

 

Na correria de final de festa tivemos que correr para guardar as caixas de som e outros materiais,  olho para o Tal estendo o braço e ele confirma:

 

Infalivelmente depois de tantos meses de sequidão estávamos molhados de chuva!

 

De chuva e lágrimas...

 

 

 

 

 

 

 

 

 

.