MEMORIAL SERRA DA MESA - O MAIOR COMPLEXO CULTURAL DA REGIÃO NORTE DE GOIÁS - AGENDE AQUI SUA VISITA
O Memorial foi construído com o objetivo de resgatar a história da região impactada pela construção do Lago de Serra da Mesa: as cidades de Niquelândia, Colinas do Sul, Campinorte, Minaçu e Uruaçu. Também tem como proposta, promover a educação ambiental e ser um centro de referência da cultura goiana, especialmente da região de Serra da Mesa. As obras ocupam uma área de 20 mil metros quadrados, próxima do Lago Serra da Mesa e da rodovia GO-237, que liga Uruaçu a Niquelândia.
Além dos recursos próprios a Prefeitura Municipal de Uruaçu buscou o apoio de diversos Ministérios, entre os quais os do Turismo e da Integração Nacional e especialmente o da Cultura através da lei Rouanet com Furnas, Mineração Anglo American, e também recursos de emendas parlamentares. Toda parte técnica foi feita pelo Instituto Trópico Subúmido da Universidade Católica de Goiás. A idéia é baseada no "Memorial do Cerrado", localizado no campus 2 da UCG, em Goiânia que hoje se tornou ponto turístico da capital, sendo também considerado um dos mais significativos complexos científicos e culturais de Goiás.
A cidade de Uruaçu está situada no norte do estado de Goiás, a 282 km da capital de Goiás e é a única cidade banhada pelo lago de Serra da Mesa, considerado o segundo maior lago artificial do mundo. Com a construção da Hidrelétrica de Serra da Mesa houve um grande impacto ambiental e social em toda a região atingida pelo alagamento. Muitas famílias perderam suas terras indo para as cidades próximas, grande parte do cerrado e sua história ficaram debaixo das águas. O objetivo do Memorial é resgatar a historia da região, promover a educação ambiental e ser um centro de referência da cultura goiana, especialmente da região de Serra da Mesa.
O projeto estimula a geração de novos ofícios como oficinas artesanais, paisagismo voltado para os parques temáticos e cerâmica; incentiva a pesquisa fundamental, aplicada e experimental, e também o estudo do valor medicinal dos fitoterápicos; e ainda favorece o intercâmbio organizacional, científico e cultural com diversas instituições como: fundações, ONGs nacionais e internacionais, universidades, institutos de pesquisa e governos.
A pedra fundamental foi lançada no dia 1º. de Julho de 2006 e será aberta no dia 1º. de Julho de 2106, 100 anos depois do seu lançamento oficial. Dentro da lápide foram colocados uma bola de futebol porque era época da Copa do Mundo; aparelho celular; 1 litro de pinga Serra da Mesa; jornais do dia; publicações de autores uruaçuenses e assinaturas e frases de centenas de pessoas que estiveram presentes na festa de lançamento da pedra fundamental
A entrada do Memorial é por um suntuoso pórtico criado pelo arquiteto Louis Bernard Tranquillin (in memorian), com frases e desenhos que contam a história local desde as primeiras ocupações humanas em torno da cidade. Neste pórtico os desenhos feitos com pedras da região narram numa seqüência histórica os rios, garimpeiros, índios, enfim os primeiros habitantes da região de Serra da Mesa. Os desenhos e as frases são de criação da artista Larissa Malty (Velha do Cerrado) e em letras monumentais se pode ler: Os índios navegaram nesses rios; E se fez riqueza de ouro e pedras; E dessa água se tirou o alimento; Nesse rio o gado matou sua sede O homem gerou a luz; E a partir dele ainda hoje contemplamos a natureza compreendendo sua história.
Este memorial se tornou o ponto de encontro da cultura regional, toda manifestação folclórica tem nele suporte para se apresentar como o Chimite, a Catira, as Rezadeiras, o Caxá, o Vôzinho, todos têm no memorial um local privilegiado. As escolas particulares e públicas e as universidades podem contar com o Centro de treinamento ou Centro Cultural que tem um auditório para 300 pessoas com estrutura suficiente para atender a todos os tipos de clientes e eventos.
Num grande museu cuja arquitetura lembra um dinossauro estão expostas todas as espécies de animais existentes no cerrado goiano. Esses animais são conservados pelo processo chamado “taxidermia” com orientação e técnica criada pelo professor José Hidase de Goiânia. Também nesse museu podem ser apreciadas todas as pedras da região, espécies da flora e ainda toda a história do homem do cerrado é contada em detalhes através da exposição de fósseis pré-históricos e enormes ploters contando a história evolutiva da terra e do cerrado, especialmente da região de Serra da Mesa, uma pesquisa do professor dr. Altair Sales Barbosa (UCG).
Uma gruta mostra como o homem primitivo vivia na pré historia. A aldeia indígena representa o tronco timbira principal das etnias que foram para o norte de Goiás, hoje Tocantins se dividindo em muitos tribos como os krahôs e outros. Inclusive parte do material que compõe as cabanas foi confeccionado pelos índios krahôs. O espaço recriado conta a história do povoamento de Goiás, especificamente Uruaçu. Na fazenda tradicional podemos ver engenho, carro de boi, fábrica de farinha, alambique, monjolo, curral e enfim tudo que caracteriza uma fazenda antiga.
Em datas especiais como Semana do Folclore e outras, o visitante pode ver o engenho moendo cana, o carro de boi carreando, a confecção de farinha de mandioca, o monjolo socando, o alambique produzindo pinga, o curral com bois, galinheiro, chiqueiro de porcos e outros. Há também um espaço para as fiandeiras, contadores de causos, tecedeiras e todas as manifestações regionais. Na cidade cenográfica os prédios representam a antiga Santana do Machambombo, hoje Uruaçu. Construções como a Casa Baiana, a primeira cadeia, uma botica e a primeira escola de Uruaçu decorada com carteiras, mesas, palmatória e cadernos e livros da época.
Todos esses espaços são mobiliados à caráter e foram montados baseados em fotos antigas e depoimentos dos primeiros moradores como a casa do Coronel Gaspar Fernandes de Carvalho. (pesquisa Sinvaline Pinheiro). A Capela de Santana que foi a primeira igreja da cidade está reconstruída em tamanho original com cruzeiro e tudo. Nesse largo está representada uma casa e a forca de Trairas. Para que tudo seja como era antes foi construída também a vila com casinhas de adobe, jirau de pau e um bordel representando o antigo (Fôia) da cidade de Uruaçu. Este bordel é decorado com móveis antigos, perfumes que as cortesãs usavam para atrair dinheiro e homem, as famosas bacias esmaltadas onde se lavavam. Em datas especiais atrizes representam as damas no famoso “Fôia” Essa representação se faz no sentido de mostrar como no passado os pais usavam o bordel como um local para ensinar aos filhos os primeiros contatos com as mulheres.
A casa sede da fazenda tradicional foi inspirada em construções de fazendas antigas da região como a casa da Dona Nina que é antiga moradora da região de Urualina, município de Uruaçu. Tudo foi construído sem perder nenhum detalhe: o assoalho de tábuas, a bica dágua com o monjolo e o telhado com telhas comuns coletadas em taperas da região. Essas telhas segundo os mais antigos, as primeiras foram feitas nas “coxas dos escravos”, só depois de muitos testes foi inventada a forma de madeira chamada “galape”.
O quilombo apresenta de forma explícita como os escravos fugitivos viviam em casebres de taipa (ripa e barro), aglomerados num local pequeno entre serras e ainda um espia no alto para vigiar o abrigo. Ainda no Memorial há uma área de camping, espaço de lazer e de complemento às atividades culturais. Também um deck que será utilizado como ponto de observação e de pesca esportiva. A interação com a comunidade se fez desde a construção: os doadores são pessoas mais velhas que com o olhar emocionado rememoraram o passado e sentiram a necessidade dessa participação nesse local que guarda suas lembranças. Nesse momento surgem os causos e a participação é efetiva.
O sentido do Memorial será levar para crianças e jovens de forma concreta o modo de vida do homem primitivo desde o índio, o agricultor, o marceneiro, o carreiro, a tecedeira, a benzedeira e outros. Essa memória preservada pode formar cidadãos conscientes de seu papel consigo mesmo e com a natureza. Esse espaço é privilegiado com a visão do lago que de um lado mostra o progresso com a geração de energia elétrica e de outro a visão da memória do homem do cerrado, da historia que ficou debaixo das águas incluindo as matas, os animais e as pedras.
Todos os que trabalham no Memorial já participam de uma aula a céu aberto, são curiosos e assim interrogam e ajudam no resgate da história. A importância do Memorial repercute nos atos, nas falas do pedreiro, do marceneiro, do caminhoneiro que carrega o material. Os trabalhadores do sofisticado ao mais simples em seus comentários vão juntando frases e formando uma grande história sobre o passado do homem.
Todos que passam pelo Memorial se emocionam e voltam no tempo marcando assim a sua verdadeira intenção. A velha senhora se alegra diante da visão do tear e manifesta o desejo de tecer nos dias de apresentação. Professores visitantes do Rio de Janeiro deslumbrados diante da visão do memorial entre si discutem e um comenta: - Quando ouvi falar do Memorial nunca imaginei numa obra desse porte, pensei em um pequeno museu. Mas estou sem palavras diante da grandeza dessa obra.
A festa de inauguraçao foi dia 26, 27 e 28 de Novembro e começou com uma grande parada cultural na av principal de Uruaçu onde parte dos grupos caracterizados apresentam personagens do passado. A inauguração contou com a presença de autoridades federais, estaduais e representantes da imprensa de todo o Brasil. O espetáculo ficou por conta dos artistas da terra que ocuparam todos os espaços do Memorial desde a pedra fundamental, cidade cenográfica, quilombo, aldeia, bordel, gruta pré histórica e outros. Todas as cidades do entorno do Lago de Serra da Mesa participaram com seus grupos culturais.
Dentro da programação houve a apresentação de índios cariri-xocó do Santuário Sagrado dos Pajes, Ilha do Bananal do Distrito Federal. Além disso todos os espaços funcionaram normalmente: engenho, oficina de sabão, alambique, oficina de farinha, etc. A inauguração do Memorial Serra da Mesa foi uma comemoração que ficou na história cultural do Norte Goiano.
Texto: Sinvaline Pinheiro (sinvaline@gmail.com)